sábado, fevereiro 25, 2012

abandono - poesia de Delasnieve Daspet

Abandono
            Delasnieve Daspet
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O interior é desolador...
Teias de aranhas cobrem
Frestas e cantos...
Os móveis revestem-se de
Espessa  poeira,
Marcas do  abandono.
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Entretanto,o jardim,
É belo.Verde e com flores.
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Alguns, somos assim,
Por fora,cintilamos,
Mas por dentro, o abandono
É  colossal...
A mobília interior esta suja e arruinada.
DD_Campo Grande-MS, 05.03.11

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Há alguem que me toca a alma... poesia de Delasnieve Daspet

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Há alguem que me toca a alma...
          Delasnieve Daspet
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Há alguem que me toca a alma.
Não sei quem é.
Pois sonho acordada e não consegui
ainda atinar.
Quem será?
Me dirá o vento?
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Ó murmurio da tarde tu
me dirás quem é que me abraça
cheio de amor?
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A canção de amor que ouço,
o coração cheio de luz que sinto,
um amor cheio de mim -
diga-me brisa - de quem é ?
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Ó penumbra - diz-me
estes braços que me abraçam,
que me dizem: estás em casa!
- a quem pertencem?
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Ó mar!
Quem é que murmura em minh alma
doces palavras de ternura e que
me diz: sejas livre como o vento
de um sonho de verão? Quem?
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Chuva! Frio! Solidão!
Já nao me maltratam,
não mais os temo!
Porque dormirei nos braços
de quem me quer...
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E na flor que se abre
após a chuva e o frio
virão as cores que me negastes um dia...
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Já vivo sem medos,
Sem noites frias,
Sem arrependimentos,
Aguardando o chamado -
de alguem que me toca a alma!
Vem!
DD_Delasnieve Daspet  
Manhã de 28 de dezembro de 2.000
às 10,29 hs - Campo Grande MS
Elodie-loop.wav

sábado, fevereiro 18, 2012

A Lírica de Delasnieve Daspet - Ensaio de Helenice Maria Reis Rocha


Literatura
 
Estado Mato Grosso do Sul -  C7
Sábado, 18 de fevereiro de 2012
Jornal O
http://www.oestadoms.com.br/flip/18-02-2012/p23b.pdf

Autora Helenice Maria Reis Rocha é graduada em Letras pela UFMG
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Lírica de Delasnieve Daspet  - Ensaio
        de Helenice Maria Reis Rocha*
Pensando na possibilidade de configurar um conceito de lírica pós moderna ao sabor das mídias contemporâneas, detenho-me na poesia de Delasnieve, líder brasileira de Poetas del Mundo, poesia em trânsito na modernidade global num momento de desconstrução das lógicas discursivas hegemônicas e de babelização das estabilidades conceituais dos discursos canônicos.

Se existe algo, em termos conceituais, que nos garante a possibilidade de definir algo como fenômeno de linguagem inscrito na compreensão de uma dicção lírica,o que seria esta dicção no bojo dos falares contemporâneos,da linguagem de massas , da secreta fabulação dos teóricos da academia é o que me cabe perguntar neste trabalho. Remeto-me a um verso de Safo,a grande voz feminina da lírica grega,sobre solidão e lua e aporto no seguinte verso...¨somente a Lua, indiferente, continuou iluminando a cidade escura pela tua ausência(Daspet,20,2003).

Safo, num momento de profunda solidão expressa a sua condição humana de criatura sem defesa diante do abandono (as ninfas se foram,o dia também) eterno abandono de toda criatura diante da realidade única: sou o único ser com o qual realmente estou neste momento a ausência. Delasnieviana se aproxima
da ausência do poema imortal de Safo, aquela que nos remete a nós mesmos.
 
A poética do desencanto que nos descentra da palavra de aprovação, seja da academia ou mesmo daquele discurso hegemônico que legitima, ou quem sabe, da benção do pai, fundamento, saber por excelência, ratificado pelo aristotélico verbo de identidade, e estabeleço a crise, o não lugar,a possibilidade da utopia ou da ausência total dela.
 
O Não LugarDicção migrante entre os saberes do mundo e a palavra. A dicção aparentemente simples, quase midiática (música sertaneja,hip hop) entremostra a inquietante decisão da palavra que afirmativa que diz do que sabe e a instigante fragilidade do non sense. Deixar de existir é impossível para o cantor sertanejo, uma vez que este não lugar exila o sujeito da identificação afetiva. Se o corte epistemológico que cinde os saberes do mundo com a emoção do poeta realiza esta desidentificação com o status hegemônico, tanto a hegemonia do discurso oficial, quanto a hegemonia do discurso da margem, na sua pluralidade, estamos diante da singularidade da linguagem poética, terra estranha, mundo insólito de selvagens, redutíveis apenas à beleza, por ela mesma, e à estranha humanidade da razura,da perda, de todos os perdidos no mundo e enclausurados na única realidade mesma do homem, o intangível da comunicabilidade através da palavra.
Novamente
Lua e Desencanto
Encostada na janela senti a serenidade da noite
A Lua começava a surgir num suave prelúdio da
bela luz refletida na areia(Daspet,23,2003)

Retomando a sábia ironia de Ruth Silviano Brandão sobre uma certa idéia de logus, teia iluminadora da razão, invenção de homens, reivindico aqui o direito à sombra, à ambiguidade do inconsciente , à uma certa clandestinidade que esta poesia evoca. A lua refletida na areia é uma entreluz , não uma luz total ou a completa ausência delaArs Poética.

Em Um Ser Partido,vejamos:

O que pulsa em mim
Vê-se no espelho partido
Irrevogavelmente viva
Povoada de ausências...
O sangue segue seu caminho
E, torna-me uma mera sátira!
Uma sátira de involuntários movimentos(Daspet,90,2000)

Flor de Logus estilhaçando os recursos da linguagem pré socrática. O espelho partido , a recusa da identificação que legitima a autoridade, a presença, e que, no feminino, estabelece o caldo de rebeldia que reconduz dolorosamente à vidaDesidentificada e sóSem o shtablisment. Então, algo da ordem do indizível se instaura porque, aquele que deixa de existir, desiste de qualquer legitimação, o que é impossível para qualquer arte inscrita no escopo da ideologia, dos discursos hegemônicos...

Poeta trilhando o heróico caminho da lírica feminina pós moderna que estilhaça as dores clássicas da romântica Cecília Meireles e suas jovenzinhas torturadas, ou a contemplativa Henriqueta e seu sublime elogio da morte. Se todas as Mariazinhas foram educadas para a arte do encontro, Psafo, a três mila anos atrás já tinha desistido dele, assumindo a sua solidão diante da Lua, que nesta lírica não é a dos namorados. O desencanto desta dicção deságua no inusitado de
 
São Difíceis as Coisas que quero dizer
Esperou tanto um novo encontro
que a esperança se esvaiu
como um copo d'água
esquecido(Daspet,77,2001)

Só uma dicção lírica como esta daria lugar à arte do desencontro. Uma água que não sacia, parte de um esquecimento que não ousa ser esquecido. Saindo da lógica estabelecida do encontro feliz, do casamento com a eternidade,  proponho aqui a seguinte reflexão Otávio Paz,em Os Filhos do Barro - nos diz da tradição da ruptura, ou seja:o esforço de romper com os parâmetros tradicionais da linguagem, nos joga na armadilha de transformar em tradição, a pretensão à subversão. Sem recorrência à nenhum dos recursos formais da recolocação matérica dos recursos da linguagem poética, propostos pelo formalismo e estruturalismo russo estaria aqui a arte poética fundamentalmente no modo de dizer. Advogo aqui a força do que se diz para além das possibilidades do dizível

Em Transpondo Barreiras,Delasnieve diz:

Vou trabalhar meus medos
o temor do desconhecido
De não mais existir
Do primitivo homo sapiens
ao que cheguei ser
Vou transpor minhas fronteiras(Daspet,88,2002)

O salto mortal da experiência primeva de existir à possibilidade da não existência, elide o sujeito, assunção que razura o estar no mundo em relação aos saberes, aos falares, aos discursos, tanto oficiais quanto não oficiais. Se não existo, caminho rumo a pátria incerta, socrática, daquilo que não sei. Triunfo sobre logus, afirmativo por excelência, mesmo quando nega. Crise, fenda, cisura que exila o sujeito da autoridade que vem de fora (do pai,dos discursos hegemônicos,das narcísicas tradições culturais de autoridade ou da dialética pretensão à ela).
Rebeldia e simplicidade. Excêntrica simplicidade recusando os latifúndios culturais das modernas teorias da linguagem. Linguagem de massas circunstanciando a dicção de uma lírica de três mil anos.

A vida é um caminho
Reclamo a minha estrada
O reencontro comigo!(Daspet,20,2002)....

Retomando João Ribeiro em Páginas de Estética, números 45 e 63 numa reflexão de A.M.Teixeira....o aspecto essencial da beleza é não ser intelectualmente
compreendida e não conter um só elemento de inteligência ou razão. Pode ser explicada: podem-se perscrutar as leis secretas que a regem como todas as coisas; mas sentí-la não é matéria da ciência(...)A obra de arte precisa 'conviver' e 'con-criar' conosco. Para que haja mistério na obra literária ou plástica é mister que haja incompreensão, mas sem obscuridade; que a alma que as escute ou as sinta se embeveça e continue a cismar o sonho do poeta.....Cada um se perfaz e completa a sua impressão própria e pessoal. A verdadeira obra de arte é mais um estímulo....do que idéia.

Esta Lua que se recusa, tanto à obscuridade quanto à Luz plena se me afigura o lugar provocador da linguagem poética que se recusa à estabelecer-se, levando a produção de sentidos a migrar, junto com aquele que lê, tanto à possibilidade de criação quanto à de recriação.
 
Inscreve-se assim nesta poesia, a possibilidade permanente da rediscussão da  estabilidade que nos impressiona nas teorias contemporâneas da linguagem poética. Não se trata aqui do experimentalismo formalista ou estruturalista nem tão pouco das modernas posturas das poetisas contemporâneas diante da nossa eterna condição humana.  Simplesmente a serena postura de alguém diante da Lua, se desligando do mundo com todas as suas linguagens, sedução e formas de autoridade.
 
Rebeldia total. Esta recusa ao mundo através da contemplação da lua. Me parece o corte epistemológico que nega dialeticamente a identificação narcísica com a autoridade como poder. E consequentemente as formas de identificação que legitimam a tirania do discurso oficial,de qualquer poder hegemônico. Bhabha nos diz:
Não passará a linguagem da teoria de mais um estratagema da elite ocidental culturalmente privilegiada para produzir um discurso do Outro que reforça a sua própria equação de conhecimento e poder....(Bhabha,1998:45)

Pensando na poesia de Delasnieve como quem frui um fenômeno de dicção que é parte da diáspora pós colonial (antes do 11 de setembro) é interessante
associar visões de lírica de três mil anos atrás com a contemporaneidade.

A simplicidade desta linguagem me remete à comunicabilidade midiática, à lírica de todos os tempos, ao que parece banal e é complexo.  Se pensarmos que, em termos de lírica trovadoresca,  passando por Camões(Lírica),  que usa o modus operandi da redondilha, essencialmente popular,  talvez tenhamos uma pista para compreender esta junção entre comunicabilidade imediata e complexidade,  uma vez que a também aparente simplicidade de Safo atravessou três mil anos. 
 
Se Benjamim (Magia e Técnica,Arte e Política) nos diz que a lírica,  bem como toda a poesia,  nos diz que a arte não é reprodutível em série,  penso ser perfeitamente possível dizer que o formato,  a forma linguageira,  pode ser reprodutível,  os sentidos produzidos certamente não.
 
Vivemos dentro de uma estrutura de linguagem aristotélica, conceitual, estruturada sobre o verbo ser que funciona como um princípio de autoridade que legitima ou não alguém . Os marxistas questionam isto o tempo todo.  A dialética também e a poesia de Delasnieve  me lembra muito Safo no momento (e este verso de três linhas atravessou  três mil anos). Ela se  posiciona diante da sua Lua como se desconhecese o barulho do mundo.  Apesar de ser uma autoridade legal não parece buscar nenhuma forma de legitimação por um princípio de autoridade, seja teórica, seja epistemológica (teorias contemporâneas sobre o fazer poético)Isto é muito revolucionário e fui precebendo que é uma poesia belíssimas.
Lembro  que a  liberdade é a única forma de servir à humanidade como artista.
 
Em termos de Delasnieve, quanto de todos os líricos,  advogo a possibilidade de estarmos diante do que Adorno,  Herbert Head chamam de objeto único.
Irredutível senão aos seus próprios termos .
Misterioso e belo na sua intraduzível simplicidade.
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Helenice Maria Reis Rocha  -Perfil
Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e mestrado em LETRAS: ESTUDOS LITERÁRIOS pela Faculdade de Letras (2000); Título: Sinais de Oralidade:A Transfiguração da Voz em Cobra Norato, Ano de Obtenção: 2000.;atuando principalmente no seguinte tema: Amazônia, Vida.Especialista em Música, área de Concentração: Educação Musical.Crítica.
De Belo Horizonte -MG - Brasil
helenice@task.com.br .
O presente ensaio será apresentado pela autora junto a ABRALIC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LITERATURA COMPARADA..
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Produção em C,T & A Textos em jornais de notícias/revistas 1. ROCHA, H. M. R. . As Marcas da Alteridade em Cobra Norato. Revista da Pós-Graduação em Letras da UFPA, Belém, p. 95 - 102, 10 jun. 2006. Trabalhos completos publicados em anais de congressos 1. ROCHA, H. M. R. . As Veredas da Palavra: uma tautologia do sertão. In: Encontro Regional da ABRALIC, 2005, Rio de Janeiro. As Veredas da Palavra: uma tautologia do sertão, 2005. 2. ROCHA, H. M. R. . Os Arquétipos Femininos na Poesia de Ana Miranda. In: XI Seminário Nacional Mulher e Literatura II Seminário Internacional Mulher e Literatura ANPOLL, 2005, Rio de Janeiro. Os Arquétipos Femininos na Poesia de Ana Miranda, 2005. 3. ROCHA, H. M. R. . Comunicação Riobaldo Tatarana entre o Ser e o Nada. In: III Seminário Internacional Guimarães Rosa, 2004, Belo Horizonte. Comunicação Riobaldo Tatarana entre o Ser e o Nada, 2004. Apresentações de Trabalho 1. ROCHA, H. M. R. . 8º Salão Minastenista de Pintura. 2004. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). 2. ROCHA, H. M. R. . 1ª Exposição Minas Tênis. 1991. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). Produção artística/cultural 1. ROCHA, H. M. R. . Sinfonia dos Elementais. 2004. (Apresentação de obra artística/Musical). 2 ROCHA, H. M. R. . Cameratinha Dissonante para Cordas. 2005 (Musical).
 




quinta-feira, fevereiro 16, 2012

DELASNIEVE DASPET - SAUDADE SERÁ TEU NOME - ARTE: VANDA GIGO

arte de Vanda Gigo
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Saudade será teu nome...
       de Delasnieve Daspet
 
 
Não quero retalhos de querer.
Não quero pedacinhos de carinhos.
Quero amor por inteiro .
 
Ter um amor truncado?
Melhor seguir a sós a sinuosa estrada.
Ultrapassar as encruzilhadas
Sem jamais olhar para trás.
 
Não caminharei como sombra
A teu lado.
Não culparei o destino
Quando a melancolia se abater sobre mim.
 
E quando eu for embora
Olvide-me!
Faz de conta que não nos tivemos,
Que tudo não passou de ilusão dos sentidos!
 
E  nas noites
Quando o luar te banhar a fronte
Sufoca o pranto que te sacode
A dor dos sonhos desfeitos.
 
Saudade será teu nome
Quando ousar levantar a cortina
De teus olhos,
E ver que nada restou - além de ti -
Na vazio de tua existência.
 
Eu seguirei em frente.
Irei em busca do arco-íris
Jamais me contentaria
Em viver retalhos de amor!

 
DD_31 de julho de 2001 - 16,00 hs

 
Campo Grande MS



sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Sótano - poesia de Delasnieve Daspet

Sótano.
Delasnieve Daspet – 18 de outubro de 2006.
En mi  sótão interior acumulo las cosas de la vida,
Virtudes, afectos, disgustos...
Situaciones  embarulladas por el  tiempo.
En la vida tenemos tantas partidas y llegadas.
Tenemos idas y venidas,
Lo que para unos es llegada para otro es partida...
Con eso guardamos tantos quereres!
No consigo deshacerme de las cosas innecesarias,
En la amagura, descubro,  que en el dolor
Se acumulan las tristezas!
Y creamos crostas.
Crostas de secura y de impaciencia...
Tengo de asumir las culpas?!
No soy culpada de nada,
Por las calles no busqué facilidades,
En la dureza  -  me torno seca... YO!
 
Tradução: Betty-Betina

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Gratuidad - Delasnieve Daspet

ARTE DE AILA TAVERNARD
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Gratuidad
               Delasnieve Daspet
                           02.07.08-C.Grande- MS
 
Ojos en los ojos de la inmensidad
Percibo la grandiosidad de las cosas,
Todo lo que es bello es gratuito.
 
Por la vida nada se paga,
Concebidos y generados
Somos en el amor.
 
El nombre que se carga,
Nos es dado, así como,
la raza, la cultura,el color...
 
Gracioso, tambien, es el aire que se respira,
El sol que nos despierta e ilumina,
El oxígeno que nos llega de las matas,
Algunas flores que nos hechizan,
el fruto que nos alimenta.
 
De gracia, tambien, es la inteligencia
Que elabora el pensamiento,
la decisión de la elección,
y el amor que cambiamos...
 
Y la memoria que armalcena
Algunas añoranzas, las   metas trazadas
Del ideal que se asume...
 
la vida – bien,  sien precio  de los seres vivos,
Riqueza mayor del hombre,
Es transmitida y garantida, y, debe ser
Compartida y vivida en armonía.
   
Todo que es perfecto,
Recebemos de gracia,
Por qué, entonces, la cobranza?
   
Por qué tanta gente con hambre.
Con sed y con frío,
Tanta gente sin hogar,
Sin aconchego  al lugar?
 
Por qué tantos abandonados a la suerte,
Infeliz suerte,
en un infeliz caminar ?

domingo, fevereiro 05, 2012

Reminiscências por Delasnieve Daspet

 
Reminiscências
 Delasnieve Daspet
              .

Hoje, serpenteando, como um rio,
Por vales, montanhas, flores e espinhos,
Confundo-me na correnteza
De minhas múltiplas existências...
 .
Ávida, sem qualquer repouso,
Pesquisei o princípio e o fim,
Que permanece envolto em denso véu...
 .
O incompreensível é tão monótono!
Agora percebo que nada importa
Neste  mundo transitório,
E minh´alma se espalha
Nas diversas nuances da imensidão...
 .
Numa retrospectiva, relembrando, vejo
Um oásis – que à minha lembrança –
É permanentemente verde,
Flores pela manhã e a noite,
Onde os pássaros fazem ouvir seus trinados.
 .
Na matina o orvalho cintila
Como pétalas perfumadas
Aos meus pés.
 .
E o rio de minha infância,
Onde as flores se miram,
Brinca, cristalino, nas matas,
No suave burburinho do amanhecer.
 .
Olho-me, eu também, quero ver-me
Refletida nas águas do Rio Tereré,
E vejo, não as cãs brancas pelo tempo,
Mas a imagem de uma pequena flor do mato,
Que balança, suave, impelida
Pela brisa da manhã...
 .
Do átomo que sou
Do grão de areia, do rochedo,
Do ar, da água, da flor, da  ave,
Dos animais de todas as espécies,
De toda a atmosfera, de toda a terra,
Que circundam todos os caminhos
Completamos  a Humanidade!
DD_ 13.10.09 – CGrande-MS